Imagem do Post
Publicado: 2025/08/01

Desobediência Verde

Sem grow, sem indoor, a cannabis que escapou do cultivo, sobreviveu à proibição e segue contando a história quase secreta da erva que ninguém plantou.

Enquanto muita gente se esforça com técnicas de cultivo sofisticadas, a cannabis dá provas de sua teimosia. Ela cresce sozinha, quando quer, onde menos se espera. No canto de um muro pichado, entre as rachaduras do cimento quente, no meio do mato que ninguém capina… lá está ela, a indomável cannabis, crescendo espontaneamente e livre.

É a chamada cannabis feral, ou selvagem, uma planta que dribla os limites do cultivo planejado e insiste em viver. Porque nem toda erva nasce num grow climatizado.
Às vezes, ela é fruto de sementes esquecidas, levadas pelo vento, por animais ou, ironicamente, espalhadas por humanos em outros tempos. Ela se vira! Sobrevive à seca, ao abandono. Uma sobrevivente.

Entre as espécies mais raiz dessa linhagem está a Cannabis ruderalis. Seu nome vem de “ruderal”, termo que, na botânica, serve pra classificar plantas que nascem entre resíduos em áreas com entulhos, calçadas rachadas ou terrenos baldios. Ao contrário das primas sativa e indica, a ruderalis é discreta: baixa estatura, floração precoce e automática.

Quem anda mais ligado já deve ter flagrado a cannabis selvagem em lugares inusitados. A explicação? Muitas dessas regiões já tiveram cultivos legais de cânhamo industrial. E a natureza, como sempre, seguiu fazendo o seu trabalho.

Nos Estados Unidos, por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial, o governo chegou a incentivar o plantio com a campanha chamada“Hemp for Victory”.

Bora de um pouquinho de história?
Em 1942, qualquer ajuda ao esforço de guerra era bem-vinda e a cannabis entrou na linha de frente. O Departamento de Agricultura dos EUA convocou os fazendeiros a plantar a erva, que seria essencial no front. Mas não da forma que você está pensando. Nada de baseados, a matéria-prima era usada para produzir cordas, mangueiras, solas de sapatos, fardas e até paraquedas usados pelas tropas.

Antes do conflito, os Estados Unidos importavam, mas com a guerra, precisaram se virar sozinhos. Foi aí que o presidente liberou geral, autorizou o cultivo e lançou uma campanha nacional para ensinar os agricultores a plantar. As instruções chegaram num vídeo oficial, batizado de “Hemp for Victory”. E tinha um incentivo extra: os agricultores que plantasse, junto com suas famílias, ficavam isentos de ir para a guerra.

Décadas depois, descendentes dessas plantas ainda brotam por aí. Em alguns estados até recebem o apelido de ditch weed (“erva da vala”) conhecida por ser resistente e se espalhar facilmente, com sementes que podem ficar adormecidas por anos antes de germinar. E sim, ela ainda aparece. Um pé aqui, outro ali. Sem convite, sem cerimônia.

Embora derive do cânhamo, a “ditch weed” contém níveis muito baixos de THC e CBD. Com o tempo, elas tendem a se adaptar ao solo local, perdendo potência psicoativa e as suas propriedades já não são as protagonistas da história.

Mas uma coisa é certa: a cannabis se vira no perrengue, floresce na marra. Não precisa de manual, nem de permissão. Cresce fora da curva, fora do vaso, fora da lei e carrega a essência do que é ser livre. E isso, ninguém consegue podar.

Entrar na lista de espera.
Flora Urbana
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.